Investidor em Valor,
Atendendo a pedidos, no Papo de Valor de hoje teremos um convidado especial:
Renato Reis
Vamos conhecer essa fera?
Renato atualmente é investidor e analista fundamentalista da DVinvest.
Em 1.5 ano, de nov/22 a mar/24, as recomendações de Renato geraram um retorno de 38.17% no período, enquanto o Ibovespa gerou um retorno de apenas 10.04%. Ou seja, um alfa de 28.13% no período!
Ele é uma máquina de gerar valor.
Antes de conhecer o nosso convidado de hoje, gostaria de fazer uma enquete com você:
IV: Renato, poderia falar um pouco sobre você?
RR: Eu sou o Renato, tenho 24 anos, mas só 2 de bolsa. Sou formado em economia e trabalho atualmente como analista fundamentalista em uma casa de research. Comecei a cursar economia sem saber muito para onde ir, mas tomei gosto pelo mercado financeiro por conta do meu pai, que é agente autônomo de investimentos.
IV: Qual a sua estratégia para ganhar dinheiro na Bolsa?
RR: Gosto de comprar barato e vender caro, não tem segredo, fórmula pronta ou macete. Pego empresas que julgo baratas utilizando DCF reverso e fico sentado esperando até que cheguem em um cenário onde a gordura fica pequena. O mercado tende a perpetuar o presente (especialmente em commodities), então utilizo bastante o histórico/contexto de resultados das empresas para decidir se a probabilidade de superar a expectativa do mercado é grande ou não.
IV: Como é o seu processo para garimpar uma nova oportunidade de compra? Quais filtros usa?
RR: Eu gosto de olhar tudo de tudo. Hoje faço a cobertura de todas empresas do IBOV e SMLL. São cerca de 160 papéis e tento entrar só no que é muito óbvio, mesmo que deixe alguma oportunidade na mesa.
Ex: no preço de tela, a empresa XXXX3 precisa crescer 5% ao ano a receita e ter uma margem EBIT de 10%. Olhando para o histórico, ela cresceu 9% ao ano e a margem média é de 15%. Se no contexto atual me parece que ela vai superar esses 5%/10%, eu compro e penso em vender quando o preço exigir um crescimento de 8/9% ao ano e uma margem de 14/15%.
IV: Como você faz o valuation de uma ação: DCF, Múltiplos, TIR implícita, um mix dos anteriores, …?
RR: Atualmente utilizo só o DCF, mas como disse anteriormente, acho muito incerto projetar o futuro, sendo que uma diferença de 2/3% no crescimento pode afetar bastante o preço alvo, então tento pegar o que o mercado espera da empresa em termos de resultado e vejo se é provável ela entregar aquilo ou não.
No múltiplo, eu acabo tendo uma conclusao "parecida", mas sem o nivel de customizacao que o DCF me permite, dentro de uma variavel "EBITDA" ou "lucro" eu fico sem saber o que impacta. No DCF eu consigo ver o que é receita, o que é custo, o que é despesa adm, marketing, etc., fica mais fácil de entender os motivos e pensar onde ela tem que melhorar no futuro, olhando pra aquela probabilidade que falei de superar o preço de mercado.
IV: Como você gosta de construir o seu portfolio de ações, considerando número de empresas, setores e concentração?
RR: Não tem uma regra pronta, se está barato eu compro e se ficou caro eu vendo. Historicamente, quando a bolsa fica mais cara eu chego a estar comprado em 10/12 ações, quando está no preço justo, fico com umas 15/16 e, quando está barata, chega a ser algo entre 20/25. Atualmente tenho 21 empresas.
Sobre setores, também não tem uma regra, ex: quando o setor de MCMV estava barato, cheguei a ter CURY, PLPL, TEND, MRV, etc., hoje já zerei praticamente tudo.
Sobre concentração, costumo brincar que não sou profeta para saber quando uma ação vai subir, então coloco pesos iguais em todas as empresas e deixo o mercado precificar.
IV: Com que frequência você gosta de rebalancear a carteira?
RR: Mensalmente eu reviso todas as teses para ver se o preço mudou e se a ação ainda é barata, além de acompanhar todos resultados trimestrais assim que são divulgados. Em relação a pesos, rebalanceio mensalmente.
IV: Quanto tempo em média mantém uma posição na sua carteira?
RR: Varia muito, já cheguei a ficar com uma posição por alguns dias e tenho posições hoje que carrego desde 2022, fico dentro do papel até que não me sinta mais confortável em carregar.
IV: Você acredita que a análise gráfica, juntamente com a análise fundamentalista, pode ajudar nos pontos de compra e venda de ações?
RR: Sim, inclusive na casa de análise que trabalho, as carteiras recomendadas são feitas utilizando um filtro fundamentalista e uma escolha de timing por um analista gráfico.
IV: Quais são os seus setores favoritos na Bolsa? E os que você evita? Por quê?
RR: Não tenho preferência por um setor em específico, gosto de comprar empresas baratas.
Na hora de analisar uma empresa, olho para os números operacionais, mas dou uma atenção especial para a dívida, que (pessoalmente) acho ser o aspecto “mais importante” da decisão, já que, se a empresa tem problemas com dívidas, a ação cai em linha reta, trazendo um risco extra além do ciclo natural da operação. Dessa forma, acho muito improvável que compre um dia alguma aérea ou um varejo (MGLU, BHIA e AMER).
A dívida é uma coisa mais intangível, não tem um número definido que me faz ficar preocupado. Eu olho pro quanto a dívida representa do EV, olho pro vencimento dela, ou seja, se vence toda por agora ou se vence lá na frente, olho pra capacidade de gerar caixa da empresa, no caso, o lucro por si só e se esse lucro contábil tem conversão em caixa (a JHSF, por exemplo, tem lucro, mas não gera caixa) e olho covenant.
IV: Você usa derivativos? Qual a sua estratégia?
RR: Não utilizo alavancagem ou derivativos justamente por querer ter o tempo como meu aliado e não como meu inimigo. Se estiver alavancado em uma posição, eu preciso estar certo na hora certa, o que aumenta MUITO a chance de perder.
No caso de vender call/put eu limito meu ganho, fora que como cubro MUITA empresa, 95% delas não tem liquidez em opção pra isso.
Na forma que analiso, fazendo o DCF reverso, eu acabo olhando mais pra probabilidade da empresa superar o que o mercado espera do que de fato o resultado cravado que ela vai entregar no futuro, então meu preço alvo tem um desvio padrão meio alto.
Um exemplo prático: comprei TEND3 a 5 e pouco, com um alvo a 12. Quando ela chegou lá, deixei correr um pouco mais porque não era nada de outro mundo ela entregar os números que fariam ela valer 15.
De forma geral, eu olho mais pra se a empresa está barata ou cara do que tentar cravar se o alvo é 14,00 ou 14,50.
IV: Qual a ação brasileira com o maior potencial de alta (ou melhor risco/retorno) na sua carteira hoje? Poderia explicar sucintamente o case?